Domingo, 29 de Março de 2009
CRÍTICA
Instalação cênica captura Woolf em As Ondas - Valmir Santos
A demonstração do trabalho em processo de As Ondas tem última sessão hoje. O maior desafio de Louri Santos e Simone Spoladore, que assinam adaptação e concepção, será atingir no espetáculo a experiência mística e sensorial que conseguem alcançar em equipe nessa viagem pelo romance homônimo da inglesa Virginia Woolf (1882-1941).
Uma banheira, o tronco de uma árvore, a janela de uma casa, o brinquedo de balanço, o buraco de um porão, um bando de jardim, enfim, são nesses espaços que os performers Chiris Gomes, Christiane de Macedo, Luthero de Almeida, Rodrigo Ferrarini e os próprios Santos e Spoladore surgem sentados, texto em punho, a ler trechos do romance ao microfone. A história é reverberada em caixas de som em vários pontos do local.
É uma leitura encorpada, digamos, atenta ao rumor da língua, seus suspiros referendados já no nome desse coletivo artístico, Companhia do Sussurro.
A noite agradável, o farfalhar das folhagens ao caminharmos pelo jardim, os banquinhos feitos de pedaços de tronco, as ilhas de luzes que atenuam a escuridão no quintal, tudo conspira para a exploração sensorial do lugar, caráter sensório inerente à estrutura de texto de Woolf, na qual os personagens despontam com discursos diretos, uns falando sobre os outros, não entre si. O ir e vir são explorados pelo espectador, estimulado a circular por entre as vozes e microcenários contidos no todo do quintal.
A música também exerce papel fundamental na abertura e no encerramento, com canções que remetem às ondas do mar, numa levada bossanovista com violão e canto ao vivo. Entre os músicos e compositores, estão Barbara Kirchiner, Octavio Camargo, Troy Rossilho, Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost. Um vídeo em preto e branco apresenta imagens em preto e branco relativas ao tema, ondas que abraçam montanhas, crianças na orla etc.
Na parte final, os seis personagens/performers juntam-se ao redor de uma fogueira para a qual o público também converge. Na primeira noite, houve um brinde a Woolf com taças de vinho branco e trufas – sua morte ocorreu em 28 de março de 1941, justamente a data da estreia no Festival, ontem. As pessoas presentes também ganham máscaras de papel que reproduzem o rosto da escritora, em preto e branco.
Como está, As Ondas emana ímpeto dionisíaco que talvez ganhe mais relevo no futuro, uma janela de possibilidades para uma autora tão inquieta.
Como está, As Ondas emana ímpeto dionisíaco que talvez ganhe mais relevo no futuro, uma janela de possibilidades para uma autora tão inquieta.
Trabalho em processo: As Ondas
Data: hoje, dia 29, às 21h (última apresentação)
Data: hoje, dia 29, às 21h (última apresentação)
Local: Estúdio Marcelo Scalzo
Nenhum comentário:
Postar um comentário