quinta-feira, 2 de abril de 2009



Domingo, 29 de Março de 2009


CRÍTICA

Instalação cênica captura Woolf em As Ondas - Valmir Santos




A demonstração do trabalho em processo de As Ondas tem última sessão hoje. O maior desafio de Louri Santos e Simone Spoladore, que assinam adaptação e concepção, será atingir no espetáculo a experiência mística e sensorial que conseguem alcançar em equipe nessa viagem pelo romance homônimo da inglesa Virginia Woolf (1882-1941).



Fotos: Gilson Camargo, blog Olhar Comum
http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/?p=1836
Trata-se de uma instalação cênico/sonora/musical/visual, se é que podemos condensá-la ou chamá-la assim. Para incorporar o percurso introspectivo da autora, o fluxo de pensamento que dispensa ação e diálogo, os seis personagens ganham nichos, ilhas em seis cantos do jardim do estúdio do artista plástico Marcelo Scalzo, no bairro São Francisco.

Uma banheira, o tronco de uma árvore, a janela de uma casa, o brinquedo de balanço, o buraco de um porão, um bando de jardim, enfim, são nesses espaços que os performers Chiris Gomes, Christiane de Macedo, Luthero de Almeida, Rodrigo Ferrarini e os próprios Santos e Spoladore surgem sentados, texto em punho, a ler trechos do romance ao microfone. A história é reverberada em caixas de som em vários pontos do local.
É uma leitura encorpada, digamos, atenta ao rumor da língua, seus suspiros referendados já no nome desse coletivo artístico, Companhia do Sussurro.



A noite agradável, o farfalhar das folhagens ao caminharmos pelo jardim, os banquinhos feitos de pedaços de tronco, as ilhas de luzes que atenuam a escuridão no quintal, tudo conspira para a exploração sensorial do lugar, caráter sensório inerente à estrutura de texto de Woolf, na qual os personagens despontam com discursos diretos, uns falando sobre os outros, não entre si. O ir e vir são explorados pelo espectador, estimulado a circular por entre as vozes e microcenários contidos no todo do quintal.

A música também exerce papel fundamental na abertura e no encerramento, com canções que remetem às ondas do mar, numa levada bossanovista com violão e canto ao vivo. Entre os músicos e compositores, estão Barbara Kirchiner, Octavio Camargo, Troy Rossilho, Alexandre França e Luiz Felipe Leprevost. Um vídeo em preto e branco apresenta imagens em preto e branco relativas ao tema, ondas que abraçam montanhas, crianças na orla etc.



Na parte final, os seis personagens/performers juntam-se ao redor de uma fogueira para a qual o público também converge. Na primeira noite, houve um brinde a Woolf com taças de vinho branco e trufas – sua morte ocorreu em 28 de março de 1941, justamente a data da estreia no Festival, ontem. As pessoas presentes também ganham máscaras de papel que reproduzem o rosto da escritora, em preto e branco.

Como está, As Ondas emana ímpeto dionisíaco que talvez ganhe mais relevo no futuro, uma janela de possibilidades para uma autora tão inquieta.
Trabalho em processo: As Ondas
Data: hoje, dia 29, às 21h (última apresentação)
Local: Estúdio Marcelo Scalzo
Veja a matéria sobre a peça no Festival TV


Fotos de Gilson Camargo: